sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O que e manga


Muitas pessoas poderiam simplesmente responder que mangá são histórias em quadrinhos feitas no Japão, e animes seriam desenhos animados feitos no Japão. Mas isto não é assim tão simples. A palavra Mangá (Man=involuntário, ga=desenho) foi utilizada pela primeira vez pelo ilustrador Kokusai em 1814. Muito antes de se começar a produzir quadrinhos no ocidente, esta arte já existia no Japão. O primeiro registro de uma história em quadrinhos, inclusive, data do século XII, quando o monge budista Toba publicou seu choujuu giga ("Pergaminho Animal"), uma sátira ilustrada sobre os religiosos e nobres japoneses. Quando se fala em Mangá e animes, logo se pensa em personagens de olhos grandes, robôs gigantes, artes marciais, entre outros esteriótipos. Quem pensa assim está redondamente enganado. Só para exemplificar, o anime de maior sucesso de todos os tempos, Maison Ikkoku (a história de um estudante que, enquanto luta para passar no vestibular, apaixona-se pela jovem gerente de sua pensão), trata do dia-a-dia de pessoas normais como quaisquer outras, sem ter nenhum personagem com poderes, nenhum lutador, nenhum robô. A realidade do mangá e do anime é muito diferente. Os mangás e animes diferem em muito dos quadrinhos e desenhos animados ocidentais ocidentais. Enquanto no ocidente quadrinhos e desenhos animados procuram atingir, na maioria das vezes, um público alvo infanto-juvenil, existem mangás e animes para todas as idades e todos os gostos. Desde o infantil (como Kimba e Digimon) até o adulto (como Yawara e Serial Experiments Lain), desde a fantasia (como A Princesa e o Cavaleiro e The Visons of Escaflowne) até o erótico (como Poderes Eróticos e Dragon Pink). Na verdade, é comum nas manhãs de Tóquio ver pelas ruas ou nos trens homens de pasta e terno, a caminho do serviço, lendo mangás, que geralmente vão para o lixo mais próximo assim que ele termina de ler, assim como aqui se faz com jornais (inclusive, o Japão é o maior consumidor de papel do mundo, sendo que muitos mangás geralmente impressos em preto-e-branco, em papel reciclado, em livros que ultrapassam 400 páginas, muitos sendo semanais). As histórias retratadas nos mangás/animes geralmente tem começo, meio e fim, funcionando como "novelas" ilustradas ou animadas. Na maioria das vezes, um anime é baseado em um mangá pré-existente, embora nos últimos anos isto tenha mudado bastante Durante o decorrer de cada história, os personagens destas crescem, envelhecem, sofrem os mais diversos tipos de experiências, e até morrem, podendo isto ocorrer até mesmo com o persongem principal (como em Dragon Ball Z). Quanto a morte, esta é tratada de uma forma muito mais realista do que nos desenhos ocidentais, onde raramente é isto a morte de um personagem. Cada série apresenta um elenco variado de personagens, que geralmente fazem com que o leitor/espectador se identifique com algum deles, tais são as dificuldades, alegrias, tristezas, decepções que estes persongens passam no seu dia-a-dia ou os sonhos que estes alimentem (quantos de nós não se indentificariam com Iusaku Godai, de Maison Ikkoku, na sua luta para passar no vestibular e por um amor não-correspondido, ou com Oliver Tsubasa, de Super Campeões, e seu sonho de jogar em um grande time de futebol brasileiro). Isto é um dos principais artifícios buscados pelos escritores de mangá/anime: o envolvimento psicológico do leitor/espectador com determinada série, determinado personagem. A combinação de um estilo de desenho leve (chamado inclusive de "linhas fáceis"), com personagens muito mais caricatos do que os ocidentais [o que permite uma melhor representação de estados emocionais através da aparência externa do persongem (uma das utilidades dos "olhos grandes"), utlizando a técnica artística conhecida como expressionismo], e roteiros muito bem elaborados é que tem feito com que o mangá/anime esteja cada vez mais presente na mídia dos EUA, crescendo cada vez mais a cada ano (embora mesmo lá, o comércio anual de quadrinhos nem chegue perto do japonês). Atualmente estamos passando por uma explosão de Animês na TV brasileira. Cada vez mais as emissoras (tanto abertas quanto pagas) tem trazidos novas séries, sendo que, por cima, aproximadamente 30 diferentes animês estão sendo exibidos, contando séries, especiais e longas-metragens nas TVs abertas e pagas. E não há sinais de que isto vá parar, principalmente se forem confirmadas as notícias de uma editora paulista lançará, ainda este mês, os Mangás originais de Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco. O sucesso também pôde ser observado durante o Animecon 2000, realizado dos dias 12 a 15 de outubro, na Faculdade Casper Líbero, São Paulo, onde durante os 4 dias, 6.520 pessoas se reuniram para diversas atividade realacionadas a Mangá e Animê (palestras, gincanas, exibições, concursos de fantasias, de ilustrações, RPG, etc). Grande parte deste sucesso é sem dúvida alguma devido aos Fansubbers ("fan subtitle" ou "legendados por fãs"), fenômeno que surgiu no Canadá no início da década de 90, e rapidamente espalhou-se por outros países, chegando ao Brasil em 1996, quando um grupo de fãs de Brasília fundou o BaC - Brasil Anime Club (que iniciou seus trabalhos apenas distribuindo séries em japonês e inglês, mas logo legendou a comédia romântica Oh! My Goddess!), até hoje em atividade. Estes grupos caracterizam-se por legendar Animês que ainda não tenham seus direitos vendidos para alguma empresa nacional, para que assim os fãs tenham acesso fácil a este material, que que antigamente só era conseguido através de encomendas internacionais (ou seja, em japonês ou inglês), devido a pouca variedade de séries exibidas por aqui naquela época. As cópias são distribuídas aos fãs mediante encomenda pela Internet, a preço de custo (um fansubber nacional não vende nenhuma fita por um valor acima de R$ 10,00, e estão sempre procurando baixar os preços) mais as despesas de correio e uma taxa para manutenção do clube, dos equipamentos utilizados e para aquisição de novas séries (taxa esta que nunca ultrapassa R$ 5,00 do valor total do pedido, quando é cobrada). Por "lei", os fãs não podem vender ou alugar estas cópias, pois assim estariam indo contra o princípio dos fansubbers, que é a divulgação do Animê sem fins lucrativos. Sempre que uma das séries que qualquer fansubber tenha legendado (ou mesmo que esta série do acervo esteja em outra língua) tenha seus direitos vendidos para qualquer empresa brasieira, esta é imediatamente retirada do catálogo, e nunca voltará a ser distribuída por estes grupos (isto aconteceu recentemente com Ghost in the Shell movie, El Hazard TV, Dragon Ball Z TV, Rouroni Kenshin TV - Samurai X e Card Captor Sakura TV). Atualmente os fansubbers em atividade para legenda e distribuição de animes são o BaC, o Shin Seiki Anime e o Lum's Club. Também temos fansubbers que apenas legendam, como o K-Anime e o Anime Dream. Em São Paulo temos também um Distro, ou seja, um grupo de fãs que apenas redistribui animes que eles compram dos fansubbers, o ABR - Animania Brasil Revolution. Todos estes grupos até hoje nada fizeram que tenha levado os fãs a desconfiarem das suas intenções de divulgação de Animes sem fins lucrativos. Atualmente, mais de 100 Animês diferentes já foram legendados por estes grupos, e muito mais deve vir nos próximos meses Em vista de tudo isto, acreditamos que o Animê, após várias ondas passageiras, veio agora para ficar, trazendo algo de qualidade para a atualmente fraca programção das TVs nacionais. Por Eduardo Borges de Melo

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